O Brasil está em plena expansão na produção de biometano, um combustível renovável derivado da decomposição de resíduos orgânicos. Com políticas públicas favoráveis e investimentos privados crescentes, o país busca transformar seu vasto potencial em realidade energética. No entanto, obstáculos regulatórios e logísticos ainda precisam ser superados para que o biometano se torne uma peça-chave na matriz energética nacional.
Crescimento e Potencial de Produção
Atualmente, o Brasil produz cerca de 820 mil metros cúbicos de biometano por dia, provenientes de 11 usinas, principalmente instaladas em aterros sanitários e na agroindústria. Com a entrada em operação de mais 32 plantas aguardando autorização, a produção diária poderá aumentar em 1,4 milhão de metros cúbicos. A expectativa é que, até 2030, a produção alcance 8 milhões de metros cúbicos por dia, aproveitando o potencial estimado de 120 milhões de metros cúbicos diários, o que equivale a mais que o dobro do consumo atual de gás natural no país.
A agroindústria desponta como a nova fronteira para a produção de biometano, especialmente através do aproveitamento de resíduos da produção de açúcar e etanol, além do esterco da criação de animais. Projetos mapeados pela Associação Brasileira do Biogás (Abiogás) indicam que, até 2032, a capacidade instalada poderá atingir 8 milhões de metros cúbicos por dia, com destaque para a região Sudeste, que concentra 65,94% das plantas previstas.
Desafios Regulatórios e Logísticos
Apesar do cenário promissor, o setor enfrenta desafios relacionados à logística de distribuição e à necessidade de regulamentação da Lei do Combustível do Futuro, que estabelece metas para a substituição de combustíveis fósseis por renováveis. Além disso, ajustes na reforma tributária são cruciais para o desenvolvimento sustentável do setor.
A infraestrutura ainda é limitada, especialmente em regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos, o que dificulta a distribuição e o uso do biometano em larga escala. A competitividade com outras fontes de energia, como o gás natural e as energias renováveis mais consolidadas, representa um obstáculo adicional para a expansão do biometano.
Integração à Infraestrutura de Gás Natural
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apresentou um estudo durante a OTC 2025, avaliando alternativas técnicas e econômicas para o escoamento de biometano produzido a partir de resíduos da indústria sucroenergética. O objetivo é integrar a produção descentralizada de biometano às redes existentes de transporte de gás, ampliando o aproveitamento da infraestrutura já implantada no país.
Além disso, a Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG) anunciou o desenvolvimento de um projeto inovador para conectar pequenos e médios produtores de biometano à sua extensa malha de transporte de gás natural. A iniciativa, batizada de “Hub de Biometano”, visa ampliar o acesso à infraestrutura de escoamento de gás, contribuindo diretamente para a diversificação da matriz energética brasileira.
O Brasil possui um enorme potencial para se tornar líder na produção de biometano, transformando resíduos em energia limpa e contribuindo para a descarbonização da matriz energética. No entanto, para alcançar esse objetivo, é fundamental superar os desafios regulatórios e logísticos, além de promover investimentos em infraestrutura e tecnologia. A integração do biometano à infraestrutura de gás natural existente e o fortalecimento de políticas públicas serão determinantes para consolidar o país como referência global em energia renovável.
