3 desafios do mercado Waste-to-Energy (WTE)

3 desafios do mercado WTE

A produção de energia a partir do lixo já é uma realidade. Entenda os desafios que impedem o mercado Waste-to-energy (WTE) de se desenvolver.

O mercado Waste-to-Energy (WTE) no Brasil ainda é pouco desenvolvido por uma série de fatores, como pouco investimento no modelo e pouca maturidade do mercado. As usinas WTE possuem grande vantagem frente a outras fontes, pois são térmicas não poluentes e possuem baixa intermitência, principalmente se comparada às fontes eólicas e solar. Além disso, o modelo também soluciona parte do problema dos resíduos sólidos urbanos (RSU), que ainda é um grande problema social e de saúde pública em boa parte dos municípios.

Visto como uma fonte de energia nova e em desenvolvimento, as tecnologias de tratamento térmico e biológico de resíduos operam há décadas em vários países ao redor do mundo, sendo economicamente viável. Ou seja, o Brasil segue atrasado nesse tipo de investimento, tendo a maior parte do seu lixo destinado ilegalmente para aterros sanitários.

3 desafios para o mercado Waste-to-Energy (WTE) no Brasil

É possível identificar alguns entraves e desafios que ainda limitam o desenvolvimento do mercado WTE no país. Confira.

1. Dificuldades para atrair investidores

Até a publicação do novo marco do saneamento, que entrou em vigor em 2020, o maior entrave desse modelo era a dificuldade em atrair investidores. Com o modelo antigo, havia uma limitação temporal nos contratos, cerca de 5 anos, que tornava inviável a execução de usinas WTE que demandam tempo e financiamento para implementação.

Agora, com as alterações legais, é possível estabelecer parcerias mais duradouras e atrair investidores. O project finance, por exemplo, é um mecanismo de estruturação de fontes de financiamento de projetos industriais e de infraestrutura em que os riscos são divididos em uma Sociedade de Propósito Específico (SPE). O objetivo é que os riscos não sejam contaminados pelos riscos dos acionistas. Ou seja, esse modelo permite que a análise do risco de obtenção de financiamento dependa majoritariamente do projeto e não apenas de seus financiadores.

Dessa forma, é possível que as usinas Waste-to-Energy (WTE) se desenvolvam por esse meio de financiamento, atraindo o interesse de instituições financeiras e a criação de linhas de crédito específicas para WTE.

2. Mercado pouco desenvolvido

Embora a Política Nacional de Resíduos Sólidos já esteja em vigor desde 2010, a falta de fiscalização e sanções, ainda possibilita o descarte de RSU em aterros ilegais. Ou seja, um dos entraves do desenvolvimento do mercado WTE é a lentidão da transição do modelo antigo para essa opção. De maneira cíclica, o pouco desenvolvimento do mercado e a baixa adesão dos municípios inviabilizam os investimentos, deixando a fonte ainda cara frente a outras opções. Por isso, a criação do marco regulatório e outras leis complementares são fundamentais para estabelecer a segurança jurídica necessária para projetos escaláveis comercialmente.

Atualmente, é possível classificar os projetos WTE como Geração Distribuída (GD). No entanto, o modelo tem limitação de 5 MW, não podendo ser enquadrado como projeto prioritário, tornando necessária a realização de locação de ativos, que é mais um desafio no caso de Parcerias Público-Privadas. A abertura do mercado livre permitiria a negociação da energia gerada com consumidores menores do ACL, viabilizando as usinas do ponto de vista financeiro. A criação das debêntures de infraestrutura também inclui o saneamento e usinas WTE, propiciando investimentos no setor.

3. Altos custos para implementação do projeto

Para viabilizar os projetos, é preciso ir além da criação de linhas de financiamento e instrumentos financeiros. Nesse sentido, é preponderante que o ambiente estimule os investimentos privados. Até 2031, estima-se que sejam necessários mais de R$ 11 bilhões ao ano em investimentos em infraestrutura para garantir uma gestão sustentável de resíduos sólidos no Brasil.

A usina WTE consegue gerar energia a preços competitivos quando se compara todos os fatores, como a externalidade que os resíduos geram. Ou seja, esse modelo tem um impacto ambiental positivo, evitando a emissão de gases do efeito estufa e a contaminação de água potável, que pode ocorrer com a destinação incorreta de lixo. Contudo, o que ocorre em leilões de energia é que a contratação se dá pelo menor preço. Dessa forma, as usinas WTE acabam sendo preteridas.

Assim, é possível concluir que o mercado de WTE ainda tem um longo caminho a ser percorrido, mas já deu o seu primeiro passo com as mudanças recentes da legislação. Quer saber mais sobre soluções limpas? Leia o conteúdo de produção de hidrogênio a partir do biogás.