Um novo estudo brasileiro destaca o potencial do país em oferecer soluções inovadoras para o combate às mudanças climáticas, alinhando-se a uma crescente onda de investimentos e iniciativas globais voltadas para a sustentabilidade e a transição energética.
Em um cenário global de urgência climática, um relatório recente, intitulado “Soluções em Clima e Natureza do Brasil”, lançado por importantes instituições brasileiras, aponta caminhos para a descarbonização e atração de investimentos. O documento, que será um dos pilares para a participação brasileira na COP30 em Belém, em novembro de 2025, catalisa a discussão sobre como as ações locais podem impulsionar a agenda climática mundial.
O estudo categoriza as soluções em três estágios: maduras (já amplamente adotadas), em ascensão (com potencial de expansão) e promissoras (em fase inicial de desenvolvimento). Essa abordagem reflete a complexidade e a diversidade dos desafios e oportunidades na transição para uma economia de baixo carbono.
Transição Energética: O Motor da Mudança Global
O setor de energia é um dos pilares da transição, com o Brasil já se destacando pelo uso de fontes renováveis. Globalmente, o investimento em transição energética atingiu a marca de US 1,8 trilhão em 2023, um aumento de 17%, superando o investimento em combustíveis fósseis.
A capacidade global de energia renovável continua em expansão acelerada, com projeções de crescimento de 107 GW em 2024, impulsionada principalmente pela energia solar fotovoltaica e eólica. A AIE prevê um aumento de 2.400 GW na capacidade renovável entre 2023 e 2028, com solar e eólica respondendo por 95% desse avanço.
No campo dos biocombustíveis, o relatório brasileiro destaca o etanol e o biodiesel como soluções maduras. Em escala global, a produção de Combustível Sustentável de Aviação (SAF) deve triplicar em 2024, embora ainda represente uma pequena fração do consumo total de combustível de aviação. A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) estima que a produção de SAF atingirá 1,5 milhão de toneladas em 2024. O mercado global de biocombustíveis, incluindo etanol e biodiesel, está projetado para crescer 130 bilhões em 2023, para US 160 bilhões em 2028.
O biogás e o biometano são apontados como medidas energéticas em ascensão. A AIE destaca o biometano como uma rota promissora para descarbonizar setores de difícil abatimento, com um potencial global de produção que pode chegar a 400 bilhões de metros cúbicos por ano.
Agricultura Sustentável: Soluções no Campo
No setor agropecuário, a recuperação de pastagens degradadas é uma solução promissora. O Brasil possui cerca de 90 milhões de hectares de pastagens com algum grau de degradação, e a recuperação dessas áreas pode sequestrar entre 0,3 e 0,4 toneladas de carbono por hectare anualmente, totalizando cerca de 36 milhões de toneladas de carbono absorvidas por ano no país. Globalmente, estima-se que existam mais de 500 milhões de hectares de pastagens degradadas, com um potencial significativo para sequestro de carbono se restauradas, podendo levar ao sequestro de 0,3 a 1,5 toneladas de carbono por hectare por ano.
A agricultura regenerativa, que foca na saúde do solo e na biodiversidade, está ganhando força globalmente como uma estratégia para sequestrar carbono e aumentar a resiliência climática. Estudos indicam que práticas de agricultura regenerativa podem sequestrar entre 0,5 e 3 toneladas de carbono por hectare por ano, dependendo do clima e do tipo de solo.
Florestas: Guardiãs do Carbono
A proteção e recuperação de florestas são cruciais para a mitigação climática. Embora o desmatamento global continue sendo uma preocupação, com a perda de florestas primárias tropicais atingindo 3,7 milhões de hectares em 2023, iniciativas globais de reflorestamento e restauração florestal visam plantar trilhões de árvores para combater as mudanças climáticas e restaurar ecossistemas. A restauração de 350 milhões de hectares de paisagens degradadas até 2030, conforme o Desafio de Bonn, poderia sequestrar até 13-26 gigatoneladas de CO2.
Economia Circular: Reduzir, Reutilizar, Reciclar
A economia circular, que busca reduzir o desperdício e maximizar o uso de recursos, é considerada incipiente no Brasil, mas com iniciativas em ascensão. Globalmente, a economia circular está ganhando impulso, embora a taxa de reciclagem de plásticos ainda seja baixa, estimada em cerca de 9% do total de resíduos plásticos gerados. No entanto, o mercado global de reciclagem de plásticos deve crescer de US 45 bilhões em 2023 para US 65 bilhões em 2028, impulsionado por investimentos em infraestrutura e tecnologias.
Mercado de Carbono e Financiamento: Desafios e Oportunidades
O valor do mercado global de carbono atingiu um recorde de US$ 948 bilhões em 2023, impulsionado principalmente pelos sistemas de comércio de emissões (ETS). O mercado voluntário de carbono, embora menor, está crescendo e se profissionalizando, com maior demanda por créditos de alta qualidade. A regulamentação e a padronização são desafios-chave para o crescimento e a credibilidade desse mercado.
A COP30 em Belém, em novembro de 2025, é vista como um momento crucial para avançar nas negociações climáticas globais, especialmente em temas como financiamento e adaptação. A escolha de Belém destaca a importância da Amazônia e o papel do Brasil nas discussões sobre florestas e biodiversidade. Espera-se que o evento impulsione a implementação de metas climáticas mais ambiciosas e mobilize recursos para países em desenvolvimento.
A sinergia entre as soluções propostas pelo Brasil e os esforços globais demonstra que a colaboração e o investimento em inovação são essenciais para enfrentar a crise climática e construir um futuro mais sustentável para todos.