A bioenergia, quando produzida de forma sustentável, tem se consolidado como uma das soluções mais promissoras para enfrentar a crise climática global. De acordo com o mais recente relatório da Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA), a bioenergia já representa cerca de 10% do consumo mundial de energia, com a previsão de que essa participação pode crescer para até 20% até 2050, desde que sejam implementadas políticas adequadas e tecnologias inovadoras. Este aumento é crucial para que o mundo consiga limitar o aquecimento global a 1,5°C, conforme estabelecido no Acordo de Paris.
O relatório de 2023 da IRENA revela que, globalmente, o uso de bioenergia contribui para a redução de mais de 1,3 gigatoneladas de CO2 por ano, o que representa aproximadamente 10% das emissões globais de gases de efeito estufa associadas ao setor energético. Para alcançar as metas de descarbonização, o setor de bioenergia precisa expandir de forma significativa, especialmente em setores onde a eletrificação direta não é viável, como na aviação e no transporte marítimo.
Estima-se que, até 2030, o uso de bioenergia na aviação pode reduzir as emissões de CO2 em até 15%, à medida que os biocombustíveis avançados se tornam mais acessíveis e integrados às frotas aéreas. No transporte marítimo, um dos setores mais difíceis de descarbonizar, a bioenergia pode contribuir para uma redução de até 20% nas emissões até o final da próxima década.
Além dos benefícios climáticos, a bioenergia sustentável desempenha um papel fundamental no desenvolvimento econômico de comunidades rurais, especialmente em países em desenvolvimento. A IRENA estima que, em mercados emergentes da Ásia, América Latina e África Subsariana, a bioenergia pode criar até 15 milhões de empregos diretos e indiretos até 2030. Esses empregos são distribuídos ao longo de toda a cadeia de valor, desde a produção agrícola até a geração de energia e a distribuição de biocombustíveis.
Nos países da África Subsariana, por exemplo, a introdução de tecnologias de bioenergia pode aumentar a produtividade agrícola em até 30%, ao mesmo tempo em que melhora a segurança energética e reduz a dependência de combustíveis fósseis importados. Este efeito multiplicador é especialmente relevante em regiões onde a agricultura é a principal atividade econômica, proporcionando uma fonte de renda estável e sustentável para milhões de pequenos agricultores.
Embora a bioenergia tenha um grande potencial, a sustentabilidade de sua produção é um desafio que não pode ser ignorado. A IRENA alerta que, se não for gerida de forma adequada, a produção de biomassa para energia pode competir com a produção de alimentos e levar à degradação dos ecossistemas naturais. Para mitigar esses riscos, a agência recomenda o uso de resíduos agrícolas e florestais, que representam uma fonte significativa e subutilizada de biomassa. Estudos indicam que, globalmente, o aproveitamento eficiente de resíduos poderia atender até 15% da demanda mundial de energia até 2030, sem necessidade de expandir significativamente a área de cultivo.
Além disso, as tecnologias de segunda geração, que utilizam resíduos e culturas não alimentares, estão ganhando espaço e podem reduzir em até 90% as emissões de CO2 em comparação com os combustíveis fósseis tradicionais. A implementação dessas tecnologias é vital para assegurar que a bioenergia continue a ser uma solução sustentável a longo prazo.
As projeções da IRENA são claras: a bioenergia sustentável é indispensável para alcançar as metas climáticas globais. Com políticas robustas e investimentos em inovação, a bioenergia pode se tornar a principal fonte de energia renovável em setores como a aviação e o transporte marítimo, além de impulsionar o desenvolvimento socioeconômico em regiões rurais.
O relatório de 2023 destaca que, para atingir o cenário ideal, será necessário triplicar os investimentos anuais em bioenergia, que atualmente somam cerca de 40 bilhões de dólares, para mais de 120 bilhões de dólares até 2030. Esse aumento de investimento é fundamental para acelerar a adoção de tecnologias avançadas e expandir a infraestrutura necessária para a produção e distribuição de biocombustíveis em escala global.
A bioenergia sustentável não é apenas uma ferramenta para combater as mudanças climáticas, mas também um motor de desenvolvimento socioeconômico em áreas rurais ao redor do mundo. O relatório da IRENA de 2023 deixa claro que, com o apoio adequado de políticas públicas e investimentos, a bioenergia pode desempenhar um papel crucial na transição para um futuro de baixo carbono, enquanto promove o crescimento econômico e a criação de empregos em regiões que mais precisam.