Relatório da Atribuição Climática Global alerta para cenário catastrófico de aquecimento acima de Paris e revela que ondas de calor já elevaram em 167% o número de óbitos em pessoas com mais de 65 anos.
Com as promessas atuais de redução de emissões, o planeta encontra-se no caminho para um aquecimento médio de até 2,6 °C até o fim do século. Essa trajetória supera amplamente o teto de 1,5 °C estabelecido no Acordo de Paris e intensifica o fenômeno das ondas de calor, que se tornaram a forma mais letal de evento climático extremo.
Caminho Atual das Emissões e Projeções de Temperatura
Cenário de 2,6 °C
Segundo o relatório da Atribuição Climática Global (WWA) em parceria com a Climate Central, as contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) não oferecem ambição suficiente para conter o aquecimento entre 1,5 °C e 2 °C. Se mantidas as metas em vigor, o mundo atingirá 2,6 °C de aquecimento até 2100, com picos episódicos acima dessa marca.
Impactos do Excesso de Aquecimento
O aumento adicional de 1 °C em relação ao cenário de 1,5 °C representa:
- 57 dias extras de calor extremo por ano;
- Colapso de ecossistemas sensíveis, como recifes de corais;
- Queda significativa na produtividade agrícola em regiões tropicais.
Mortes por Calor entre Idosos
Estatísticas Globais
O relatório revela um aumento médio de 167% nas mortes relacionadas ao calor em pessoas com mais de 65 anos ao comparar o período de 1990–1999 com 2014–2023. Em 2024, as ondas de calor provocaram aproximadamente meio milhão de óbitos globalmente, sendo os idosos o grupo mais vulnerável.
Fatores de Vulnerabilidade
Idosos enfrentam riscos elevados devido a:
- Menor capacidade de termorregulação;
- Predisposição a doenças cardiovasculares e respiratórias;
- Limitações de mobilidade e acesso irregular a sistemas de climatização.
Medidas de Adaptação e Mitigação
Acordo de Paris e Atribuição de Responsabilidades
O relatório da Climate Central aponta que reforçar cortes de emissões para cumprir o Acordo de Paris poderia evitar dezenas de dias extras de calor extremo por ano. A climatologista Friederike Otto afirma que “a falta de ambição será paga com vidas e meios de subsistência das populações mais pobres”.
Infraestrutura e Políticas Públicas
Países e cidades devem:
- Implementar sistemas de alerta precoce para ondas de calor;
- Investir em abrigos climáticos e centros de resfriamento comunitários;
- Expandir áreas verdes urbanas para mitigar o efeito ilha de calor.
Perspectivas para o Brasil
Cenário Nacional
No Brasil, os eventos de calor extremo têm se intensificado. A Pesquisa “Mortes causadas pelo calor podem dobrar e afetar principalmente idosos” projeta que as mortes relacionadas ao calor na América Latina podem mais do que dobrar até 2050 em cenários de aquecimento de 1°C a 3°C.
Ações em Curso
O país avança com:
- Planos municipais de resiliência climática;
- Programas de substituição de telhados convencionais por tecnologias de refrigeração passiva;
- Campanhas de conscientização para hidratação e proteção em horários críticos.
O mundo está prestes a ultrapassar 2,6 °C de aquecimento, com consequências dramáticas para a saúde humana, especialmente dos idosos. O aumento de 167% nas mortes por calor entre pessoas acima de 65 anos exige respostas integradas: redução urgente de emissões, adaptação urbana e políticas de proteção social. O sucesso nessa empreitada determinará a magnitude das futuras tragédias climáticas.