O país investe em biocombustível renovável para impulsionar a economia sustentável e reduzir emissões de carbono.
O Brasil, reconhecido por sua matriz energética diversificada, está intensificando investimentos no biometano, um biocombustível renovável produzido a partir de resíduos orgânicos. Essa iniciativa visa fortalecer a economia sustentável e reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), alinhando-se às metas globais de descarbonização.
O biometano é obtido por meio da purificação do biogás, gerado na decomposição anaeróbica de materiais orgânicos como resíduos agrícolas, industriais e urbanos. No Brasil, a produção de biogás cresceu cerca de 87% nos últimos dez anos, demonstrando o crescente interesse do mercado nacional pelo setor segundo Panorama de Biometano.
Atualmente, o país produz aproximadamente 1 milhão de metros cúbicos de biometano por dia. Projeções indicam que esse número pode alcançar 7 milhões de metros cúbicos diários até 2029, um aumento de 600%. Esse crescimento é impulsionado por investimentos em novas plantas e pela ampliação da infraestrutura existente.
A Gás Verde, maior produtora de biometano da América Latina, desempenha papel crucial nesse cenário. A empresa transforma gases poluentes provenientes de aterros sanitários em energia elétrica renovável e biometano, promovendo a economia circular e reduzindo emissões de GEE.
Em 2023, a Gás Verde anunciou investimentos de R$ 600 milhões para expandir sua produção em cinco estados: São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Maranhão. A aquisição da ENC Energy, empresa portuguesa com oito térmicas a biogás, permitirá à Gás Verde converter essas usinas em plantas de produção de biometano até 2026, aumentando significativamente sua capacidade produtiva.
Com esses investimentos, a Gás Verde projeta ampliar sua produção de 160 mil metros cúbicos diários para mais de 500 mil até 2026, atendendo à crescente demanda de empresas que buscam reduzir sua pegada de carbono.
A regulamentação do biometano no Brasil é estabelecida por resoluções da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A Resolução ANP nº 886/2022 define as especificações e regras para o biometano oriundo de aterros sanitários e estações de tratamento de esgoto, destinado ao uso veicular e em instalações residenciais, industriais e comerciais.
Além disso, a Resolução ANP nº 906/2022 dispõe sobre as especificações do biometano proveniente de produtos e resíduos orgânicos agrossilvopastoris e comerciais, ampliando as possibilidades de produção e uso do biocombustível.
O uso do biometano apresenta benefícios ambientais significativos. Por ser um combustível renovável, sua queima resulta em emissões neutras ou negativas de carbono, contribuindo para a redução dos GEE. Além disso, a produção de biometano promove a gestão adequada de resíduos orgânicos, minimizando impactos ambientais associados ao descarte inadequado.
A substituição de combustíveis fósseis por biometano pode contribuir com a redução de 5,6 milhões de toneladas de CO₂ equivalente para as metas de descarbonização do estado de São Paulo até 2050, representando 3,7% da meta estabelecida.
Uso do Biometano em Diferentes Setores
O biometano é totalmente intercambiável com o gás natural, podendo utilizar a infraestrutura já existente no país e ser consumido nas mais diversas aplicações que já utilizam o combustível gasoso fóssil, como nos setores industrial, veicular e de geração de energia.
Empresas de diversos setores estão adotando o biometano como alternativa sustentável. A Ambev, por exemplo, utiliza o biometano da Gás Verde para produzir cervejas em uma de suas fábricas no Rio de Janeiro. A Saint-Gobain também substituiu o gás natural por biometano fornecido pela Gás Verde em suas usinas no Brasil.
Apesar do potencial, a expansão do biometano no Brasil enfrenta desafios, como a necessidade de investimentos em infraestrutura e políticas públicas de incentivo. No entanto, iniciativas como o Programa Metano Zero, lançado pelo Governo Federal, que prevê a construção de 25 novas plantas de biometano com investimento superior a R$ 7 bilhões, indicam um caminho promissor.
A Associação Brasileira de Biogás (ABiogás) estima que, até 2029, o país contará com 90 plantas de biometano, resultando em um crescimento significativo do setor. Com o apoio governamental e o engajamento do setor privado, o biometano tem o potencial de se consolidar como uma fonte energética estratégica na transição verde do Brasil.
Em suma, o investimento no biometano representa uma oportunidade para o Brasil alinhar desenvolvimento econômico com sustentabilidade ambiental, reafirmando seu compromisso com a transição energética e a redução das emissões de carbono.