Temperatura global supera limite de 1,5°C pela primeira vez e 2024 é o ano mais quente já registrado
A crise climática atingiu um novo patamar em 2024. Segundo o relatório mais recente da Organização Meteorológica Mundial (OMM), vinculada à ONU, o último ano foi o mais quente da história desde o início das medições. A temperatura média global ficou 1,55°C acima dos níveis pré-industriais, ultrapassando pela primeira vez o limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris como meta para conter o aquecimento global.
Os dados são alarmantes. A concentração de gases de efeito estufa (GEE) atingiu o nível mais alto dos últimos 800 mil anos, o nível do mar está subindo em ritmo acelerado, e os oceanos estão absorvendo quantidades recordes de calor. O impacto disso é sentido em todo o planeta, com eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e severos.
“O planeta está em uma trajetória perigosa, e as consequências desse ritmo de aquecimento já são irreversíveis em algumas regiões”, afirmou Chris Hewitt, diretor de serviços climáticos da OMM.
Onda de calor global e impacto nos oceanos
De acordo com o relatório, os últimos dez anos foram os mais quentes já registrados, e 2024 quebrou todos os recordes. A temperatura dos oceanos também atingiu o nível mais alto em 65 anos de registros observacionais. Entre 2005 e 2024, a taxa de aquecimento dos oceanos foi mais que o dobro da observada entre 1960 e 2005.
A elevação da temperatura da água traz uma série de consequências devastadoras:
- Perda de biodiversidade marinha – O branqueamento dos corais, essencial para a vida marinha, atingiu um nível crítico.
- Aumento no nível do mar – A taxa de elevação do nível do mar dobrou nos últimos 20 anos, alcançando 4,7 mm por ano.
- Ciclones e tempestades mais intensas – A energia extra no oceano alimenta furacões e tufões mais destrutivos.
Para a comunidade científica, esse fenômeno já está alterando padrões climáticos de forma permanente.
Secas extremas e desastres naturais em escala global
Os impactos das mudanças climáticas já estão sendo sentidos de maneira devastadora ao redor do mundo. O ano de 2024 foi marcado por uma série de eventos extremos, incluindo secas severas, furacões mais intensos e inundações históricas.
Em Manaus, o Rio Negro atingiu o nível mais baixo da série histórica, com a seca severa na Amazônia se prolongando pelo segundo ano consecutivo. Já no sul do Brasil, as chuvas excessivas causaram enchentes recordes, desalojando milhares de famílias e gerando bilhões de reais em prejuízos.
No exterior, o cenário não foi diferente. Os Estados Unidos enfrentaram uma das temporadas de furacões mais destrutivas dos últimos 50 anos, enquanto a Europa viveu a pior onda de calor da história, com temperaturas superando 48°C na Itália e na Espanha.
“O que vemos agora é um reflexo direto da intensificação do aquecimento global. As condições climáticas estão se tornando mais extremas, e isso tem impactos diretos na economia, na segurança alimentar e na vida das pessoas”, afirma Celeste Saulo, secretária-geral da OMM.
Reflexos na economia e na segurança alimentar
As mudanças climáticas não afetam apenas o meio ambiente – seus impactos já estão sendo sentidos na economia global. A produção agrícola foi severamente afetada por secas e enchentes, causando alta nos preços dos alimentos.
Estudos do WWF-Brasil apontam que a imprevisibilidade climática já compromete colheitas no país, com impactos diretos na inflação. Setores como café, soja e milho tiveram perdas de até 30% em algumas regiões devido às mudanças bruscas no regime de chuvas.
O custo dos desastres naturais também está aumentando. Segundo o relatório da ONU, os prejuízos econômicos relacionados a eventos climáticos extremos ultrapassaram US$ 250 bilhões em 2024, um aumento de 35% em relação à década passada.
A questão não é mais se as mudanças climáticas vão impactar a economia global, mas o quanto esses impactos serão devastadores se não houver uma resposta imediata e estruturada.
COP30: O desafio da humanidade para conter a crise climática
Diante desse cenário alarmante, cresce a pressão para que líderes globais adotem medidas mais ambiciosas de mitigação e adaptação. A COP30, conferência climática da ONU que será realizada em novembro em Belém, deve ser um marco decisivo para a implementação de novas políticas.
António Guterres, secretário-geral da ONU, alertou que o mundo está perigosamente próximo de um ponto sem retorno, e que ações imediatas são cruciais para evitar um futuro catastrófico.
“O tempo para debates acabou. Precisamos de ações concretas para reduzir as emissões de carbono e acelerar a transição para uma economia de baixo carbono”, declarou Guterres.
Especialistas destacam que as soluções passam pelo fim dos subsídios aos combustíveis fósseis, maior investimento em energias renováveis e o fortalecimento de políticas para adaptação climática.
O Brasil, com sua vasta biodiversidade e papel de liderança na produção de bioenergia, pode desempenhar um papel essencial nesse processo. No entanto, o país precisa avançar rapidamente em políticas de redução do desmatamento, incentivo à energia limpa e ampliação de projetos de captura de carbono.
O que podemos esperar para os próximos anos?
O relatório da ONU é claro: o aquecimento global não vai desacelerar sem ações imediatas. Mesmo nos cenários mais otimistas, a tendência é de que os impactos climáticos continuem aumentando ao longo das próximas décadas.
O que está em jogo não é apenas a estabilidade climática, mas a sobrevivência de milhões de pessoas em todo o mundo. A humanidade ainda tem uma janela de oportunidade para evitar o pior – mas essa janela está se fechando rapidamente.
Se o mundo não agir agora, as consequências serão irreversíveis.