A descarbonização da matriz energética se tornou uma prioridade global na luta contra as mudanças climáticas. Mas como descarbonizar de maneira eficiente e sustentável? A resposta está na transição para fontes energéticas mais limpas, no investimento em tecnologias inovadoras e na adoção de políticas que impulsionem a redução das emissões de carbono.
O Acordo de Paris, assinado em 2015 por 196 países, estabelece diretrizes fundamentais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e limitar o aquecimento global a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais. Para isso, os países signatários precisam apresentar metas concretas de descarbonização, conhecidas como Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). No Brasil, essas metas incluem a redução de 50% das emissões de GEE até 2030 e a neutralidade de carbono até 2050. Esse compromisso influencia diretamente políticas e investimentos no setor energético, impulsionando fontes renováveis, eficiência energética e mecanismos de precificação de carbono. Dados recentes da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) reforçam a urgência de medidas eficazes para limitar o aquecimento global a 1,5ºC até 2050.
Neste contexto, diferentes setores da economia devem adotar soluções como a eletrificação, armazenamento de energia, hidrogênio verde, captura de carbono e ampliação da matriz renovável. Este artigo explora os caminhos viáveis para a descarbonização e destaca iniciativas concretas que estão impulsionando essa transição globalmente.
O Panorama Atual da Descarbonização
Segundo o Relatório Global de Energia de 2023 da IRENA, as energias renováveis já representam cerca de 40% da capacidade instalada global, com destaque para energia solar e eólica. No entanto, o mesmo relatório alerta que o ritmo de crescimento ainda está abaixo do necessário para cumprir as metas climáticas. Em 2022, as emissões globais de CO2 ligadas à energia atingiram 36,8 gigatoneladas, um aumento de 0,9% em relação ao ano anterior, conforme a Agência Internacional de Energia (IEA).
Para reverter essa tendência, governos e empresas têm investido em soluções como eletrificação da economia, armazenamento de energia, hidrogênio verde e captura e armazenamento de carbono (CCS). O IPCC alerta que a emissão de CO2 precisa ser reduzida em pelo menos 45% até 2030 para evitar impactos catastróficos no clima.
As Principais Fontes de Energia na Transição Energética
Energia Solar e Eólica
A energia solar fotovoltaica e a eólica terrestre e offshore estão entre as fontes renováveis de crescimento mais rápido. Segundo a BloombergNEF, a capacidade solar mundial superou 1 terawatt (TW) em 2023, e espera-se que dobre até 2030. O custo nivelado da eletricidade (LCOE) dessas tecnologias caiu drasticamente nos últimos dez anos, tornando-as mais competitivas do que combustíveis fósseis em muitas regiões.
No Brasil, projetos inovadores como o Solário Carioca, da GNPW, exemplificam o avanço da energia solar no país. O empreendimento transforma um antigo aterro sanitário desativado em Santa Cruz, no Rio de Janeiro, em uma usina de energia solar com capacidade de geração de 5 megawatts (MW), utilizando mais de 11 mil painéis solares. O projeto, fruto de uma Parceria Público-Privada (PPP) entre a GNPW Group e a V-Power Energia, prevê um investimento de aproximadamente R$ 45 milhões ao longo de 25 anos e uma economia de R$ 2 milhões anuais para os cofres municipais. A usina abastecerá cerca de 45 escolas municipais ou 15 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), além de contribuir para a redução de 40 mil toneladas de carbono na atmosfera anualmente.
Hidrogênio Verde
O hidrogênio verde, produzido por eletrólise da água usando eletricidade renovável, é apontado como uma solução para descarbonizar setores de difícil eletrificação, como siderurgia, química e transporte pesado. O Relatório Global de Hidrogênio de 2023 da IEA projeta que a produção global desse combustível pode atingir 500 megatoneladas por ano até 2050, reduzindo significativamente as emissões da indústria.
Biocombustíveis e Biomassa
Biocombustíveis avançados, como etanol de segunda geração e biodiesel, desempenham um papel crucial na descarbonização do setor de transportes. O Brasil é um dos líderes mundiais nessa tecnologia, e o programa RenovaBio tem sido um dos principais impulsionadores do setor. Lançado em 2017, o RenovaBio estabelece metas obrigatórias de descarbonização para distribuidoras de combustíveis, promovendo a expansão dos biocombustíveis e reduzindo a dependência de combustíveis fósseis. Um dos pilares do programa é a certificação da pegada de carbono de biocombustíveis, permitindo a emissão de Créditos de Descarbonização (CBIOs), que podem ser comercializados no mercado. Isso cria um incentivo financeiro para produtores e contribui para a previsibilidade de investimentos no setor de bioenergia.
COP 30 e o Futuro da Descarbonização
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025, a COP 30, será sediada em Belém, no Brasil, e promete ser um marco na agenda global da descarbonização. O evento trará um foco especial para a transição energética na América Latina e o papel do Brasil como protagonista na produção de energia renovável. Espera-se que discussões sobre financiamento climático, precificação de carbono e o desenvolvimento do hidrogênio verde ganhem destaque, fortalecendo a trajetória global rumo a um sistema energético sustentável.
Com planejamento estratégico e investimentos adequados, é possível construir um sistema energético resiliente, eficiente e sustentável para as futuras gerações. A COP 30 será um momento crucial para definir os próximos passos dessa jornada rumo a um planeta com menos carbono e mais energia limpa.