O biometano, combustível renovável derivado do biogás, tem ganhado destaque no Brasil como uma alternativa crucial para a transição energética, contribuindo significativamente para a descarbonização da matriz energética e a sustentabilidade das empresas. A produção de biometano, que provém do tratamento de resíduos orgânicos, oferece uma solução que combina redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e a utilização de recursos antes desperdiçados, como resíduos agrícolas e urbanos.
Conforme dados recentes, o mercado brasileiro de biometano apresenta um potencial enorme, mas ainda enfrenta desafios, especialmente em relação à infraestrutura de distribuição. A maior parte da produção de biometano está concentrada em plantas próximas a grandes centros de resíduos, como aterros sanitários e unidades de processamento de cana-de-açúcar. Um exemplo é a Urca Energia, uma das maiores produtoras de biometano da América Latina, que opera com a sua associada Gás Verde. A planta de Seropédica (RJ) da Urca Energia, a maior do país, tem uma produção atual de 130 mil metros cúbicos por dia, com planos de expansão para 200 mil metros cúbicos até o final de 2023.
A importância do biometano vai além da substituição de combustíveis fósseis como o gás natural e o diesel. Ele representa uma solução viável para diversos setores, como o agronegócio, transportadoras e empresas de gestão de resíduos, ajudando a reduzir as emissões de GEE e cumprir metas ambientais rigorosas, como as exigências de ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa). Além disso, o biometano possui vantagens competitivas, como a previsibilidade de preços, já que não está sujeito à volatilidade do câmbio ou do petróleo.
O cenário atual no Brasil revela um crescente interesse por parte das empresas e do governo em incentivar o uso de biocombustíveis. Programas como o RenovaBio, que promovem créditos de descarbonização, estão impulsionando a produção de biometano ao estabelecer incentivos econômicos para empresas que adotam soluções energéticas mais limpas.
A Urca Energia, por exemplo, já investiu cerca de R$ 500 milhões em 2023 na expansão de suas operações, tanto na produção de biometano quanto em melhorias logísticas e no aumento de capacidade de geração de energia elétrica renovável. A previsão é de que a produção atinja 1 milhão de metros cúbicos por dia até 2025, posicionando a empresa como um dos principais atores no mercado de energia limpa.
O Brasil tem o potencial de ser um líder global na produção de biometano, considerando sua vasta disponibilidade de resíduos orgânicos, principalmente provenientes do setor agropecuário. Entretanto, desafios logísticos, como a conexão com redes de gasodutos, ainda limitam o alcance do combustível. Conforme apontado por especialistas do setor, a expansão da infraestrutura de distribuição será essencial para que o biometano atinja seu pleno potencial, permitindo que a produção seja integrada de forma mais eficiente ao mercado nacional.
Outro fator importante no desenvolvimento do mercado de biometano no Brasil é a sua competitividade em comparação com outras formas de energia renovável. Além de gerar energia limpa, o biometano apresenta uma alternativa economicamente viável para o reaproveitamento de resíduos que, de outra forma, poderiam ser descartados de maneira inadequada, agravando a poluição e as emissões de gases nocivos. Isso faz do biometano uma solução que alinha eficiência econômica com responsabilidade ambiental.
Empresas de diversos setores, como transportadoras e grandes indústrias, já estão migrando para o uso do biometano em suas frotas e processos produtivos, impulsionadas pela necessidade de redução de emissões e pelo compromisso com as metas de sustentabilidade. Além disso, postos de combustíveis que operam com gás natural veicular (GNV) também podem beneficiar-se do biometano, uma vez que o combustível renovável possui as mesmas aplicações e regulamentações que o gás natural.
Com investimentos contínuos, como os da Urca Energia, e o apoio governamental, o biometano pode desempenhar um papel crucial na transição energética do Brasil. O país tem a oportunidade de liderar o setor de biocombustíveis renováveis, contribuindo tanto para a segurança energética quanto para a mitigação das mudanças climáticas. O aumento da produção, aliado à expansão da infraestrutura de distribuição, será essencial para que o biometano possa alcançar seu potencial total e se consolidar como um pilar da matriz energética sustentável brasileira.
O Brasil precisa “dar um gás” no biometano para maximizar o aproveitamento dessa fonte de energia. Estima-se que o país poderia produzir até 120 milhões de metros cúbicos diários de biometano até 2030, volume capaz de substituir 30% de todo o gás natural consumido no território nacional. A expansão dessa produção é vista como crucial para o país atingir as metas do Acordo de Paris e avançar em direção à neutralidade de carbono até 2050. Um dos fatores que podem alavancar o crescimento do biometano é o desenvolvimento de políticas públicas mais robustas, como a ampliação dos incentivos fiscais e a facilitação de novos investimentos na infraestrutura de distribuição.
A legislação brasileira tem avançado no incentivo ao uso de energias renováveis, com destaque para o Marco Legal do Gás, aprovado em 2021. A nova legislação simplifica o processo de entrada de novos fornecedores de gás natural e biometano no mercado, fomentando a concorrência e reduzindo barreiras burocráticas. Isso abre espaço para que empresas como a Urca Energia amplie suas operações e consolide o biometano como uma alternativa competitiva aos combustíveis fósseis.
A transição energética, portanto, depende não apenas do aumento da produção de biometano, mas também da criação de um ambiente regulatório que permita o crescimento sustentado desse setor. Empresas e governos precisam trabalhar em conjunto para superar os desafios logísticos e tecnológicos, garantindo que o biometano seja uma parte integral da matriz energética brasileira.