Nos últimos meses, o Brasil tem enfrentado uma das secas mais severas dos últimos 70 anos, impactando diretamente a capacidade das hidrelétricas, principais fontes de energia do país. Segundo dados do Cemaden, em agosto de 2024, 404 municípios estavam em situação de seca extrema, e 1361 enfrentavam seca severa. As áreas mais atingidas incluem estados críticos como São Paulo, Minas Gerais e Goiás, além de regiões indígenas, agravando a crise hídrica e energética. A seca prolongada forçou o acionamento das termelétricas, fontes mais caras e poluentes.
A dependência brasileira das hidrelétricas, que respondem por cerca de 60% da matriz energética, está no centro da crise. Segundo o Cemaden, o nível dos principais reservatórios, como os da Bacia do Rio Paraná e do Sistema Cantareira, em São Paulo, está em declínio acentuado, o que levou à ativação das termelétricas. Isso aumentou a bandeira tarifária para vermelha nível 2 em setembro de 2024, o que significa um aumento direto na conta de luz dos brasileiros.
Dados da ANEEL indicam que os subsistemas Sudeste/Centro-Oeste, cruciais para o fornecimento de energia, operavam com apenas 56,53% de sua capacidade no final de agosto, um nível preocupante para a estabilidade energética.
Além disso, as queimadas, intensificadas pela seca, têm contribuído indiretamente para o aumento dos custos energéticos. A vegetação queimada reduz a proteção do solo, levando ao assoreamento dos rios e reservatórios, o que afeta ainda mais a disponibilidade de água para geração de energia. As queimadas, que muitas vezes ocorrem perto de áreas de hidrelétricas, também sobrecarregam o uso de energia para sistemas de refrigeração, aumentando a demanda elétrica.
A transição energética no Brasil é imperativa e urgente. A matriz elétrica, apesar de majoritariamente renovável, precisa se diversificar ainda mais para reduzir a dependência das hidrelétricas e o uso de termelétricas em períodos críticos. Em 2024, a capacidade instalada de energia solar no Brasil alcançou 6,5 GW, um crescimento notável, mas ainda insuficiente para aliviar completamente a pressão sobre as hidrelétricas.
A energia solar é uma das mais promissoras para a expansão da matriz energética brasileira. Com abundância de sol em quase todas as regiões do país, especialmente no Nordeste, há um enorme potencial para aumentar essa participação. O avanço registrado em julho de 2024, com 494,82 MW adicionados à capacidade solar do país, é um exemplo de que essa fonte pode ser fundamental na diversificação energética.
Outro recurso subutilizado é o biogás, que aproveita resíduos agrícolas, industriais e urbanos para gerar energia. O Brasil, com sua vasta produção agropecuária, tem o potencial de se tornar um líder mundial na geração de biogás, especialmente em regiões rurais que enfrentam maiores desafios energéticos. A produção de biogás não apenas contribui para a geração de energia limpa, mas também auxilia na gestão de resíduos, transformando um problema ambiental em uma solução energética.
A crise hídrica de 2024 revelou a fragilidade da dependência do Brasil em fontes limitadas de energia. A intensificação das secas, agravadas pelas mudanças climáticas, exige que o país acelere a transição para fontes mais seguras e sustentáveis, como solar e biogás. Além de garantir uma matriz energética mais resiliente, essa mudança reduziria os impactos ambientais e financeiros para a população.
A expansão da capacidade de energia solar e o desenvolvimento de tecnologias de biogás podem ser a chave para o futuro energético do Brasil. A crise atual serve como um lembrete contundente de que o tempo para agir é agora. Apenas com políticas públicas robustas, investimentos em infraestrutura renovável e conscientização sobre o uso sustentável de recursos energéticos o Brasil poderá enfrentar os desafios futuros e garantir um abastecimento de energia confiável e acessível para todos.