Alerta vermelho: quase 90% dos vazamentos de metano rastreados por satélite permanecem sem correção, adverte United Nations Environment Programme antes da COP30

Alerta vermelho: quase 90% dos vazamentos de metano rastreados por satélite permanecem sem correção, adverte United Nations Environment Programme antes da COP30

Quase 90% dos vazamentos de metano detectados por satélite continuam sem correção, revela a UNEP antes da COP30. Os dados da IMEO apontam falhas graves no combate a esse gás de efeito estufa, exigindo ação urgente para alcançar a meta de –30% de emissões até 2030.

Por que o metano importa — e por que agora

O gás metano (CH₄) pode permanecer menos tempo na atmosfera do que o dióxido de carbono (CO₂), mas seu impacto de aquecimento é muito maior no curto prazo. Em estudos da Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), o metano tem um poder de aquecimento global (GWP) estimado como cerca de 29,8 ± 11 vezes o CO₂ em 100 anos e até ~82 vezes em 20 anos.

A Global Methane Pledge — lançada em 2021 e assinada por mais de 150 países — fixa uma meta de reduzir as emissões globais de metano em 30 % até 2030.

Por essas razões, muitos especialistas apontam que “cortar metano” é, talvez, a forma mais rápida disponível de retardar o aquecimento global à vista. Assim, o alerta da UNEP nesta véspera da COP30 ganha relevância especial.

O que os dados da IMEO revelam

A International Methane Emissions Observatory (IMEO) da UNEP opera como mecanismo central de monitoramento do metano: combina dados de satélite (via o sistema Methane Alert and Response System, MARS), inventários industriais (por meio da Oil and Gas Methane Partnership 2.0, OGMP 2.0) e estudos científicos.

Segundo o relatório lançado em 22 outubro 2025:

  • Mais de 3.500 alertas de grande emissão de metano foram emitidos pelo MARS em 33 países até aquele momento.
  • Desses alertas, apenas cerca de 12 % geraram resposta – ou seja, acompanhamento ou correção da fonte do vazamento.
  • Por consequência, quase 88 % dos vazamentos permanecem sem tratamento.
  • A maioria dos vazamentos identificados localiza-se no setor de petróleo e gás (extração, transporte, flaring e venting) — onde o potencial de mitigação é considerado “a menor curva de ação”.
  • O relatório destaca que o alcance da OGMP 2.0 já cobre cerca de 42 % da produção global de petróleo e gás e está definindo padrões mais rigorosos de reporte.

Esses números coincidem com a reportagem do portal BNews, datada de 27 outubro 2025, que mencionava “90 % dos vazamentos detectados por satélite não estão sendo corrigidos”. A discrepância entre os 88 %-90 % refere-se à aproximação — os dados da IMEO são o referencial.

Por que essa inércia — fatores que travam o combate ao metano

Falta de prioridade em reparos “fáceis”

A executiva-chefe da UNEP, Inger Andersen, afirmou: “Estamos falando sobre apertar alguns parafusos em alguns casos… não podemos ignorar estas vitórias relativamente fáceis.”

A declaração evidencia que muitos dos vazamentos detectados são de origem técnica, operativa — que poderiam, teoricamente, ser consertados rapidamente. E mesmo assim não o são.

Falta de regulação, transparência e responsabilização

Embora a OGMP 2.0 avance no setor de óleo e gás, muitos operadores ainda não cumprem padrões detalhados de medição, reporte e verificação. Segundo o relatório da IMEO, “a trajetória de transparência está crescendo, mas o ritmo permanece insuficiente.”

Além disso, países em desenvolvimento enfrentam ainda maiores lacunas de monitoramento e controle, o que amplia o desafio global.

Monitoramento e dados: ótimo progresso, mas insuficiente ação

Satélites e ferramentas como MARS melhoraram enormemente a detecção — por exemplo, o relatório menciona que em 2023 a resposta aos alertas era de apenas 1 % e em 2024 saltou para cerca de 10-12 %.

Mas haver tecnologia não garante que a correção seja feita: a detecção é apenas o primeiro passo. A transformação da alerta em ação é o gargalo.

Foco restrito: o metano não vem apenas de petróleo e gás

Embora o setor fóssil concentre boa parte dos “vazamentos ultra-emissores”, a IMEO chama atenção para outros setores críticos: agricultura, resíduos, aço. “Mais de 60 % das emissões antropogênicas de metano vêm desses setores” — segundo o próprio relatório.

Se o foco continuar restrito aos vazamentos “grandes e fáceis”, pode-se perder a redução agregada que viria de tratar fontes muito mais difusas.

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Implicações para a COP30 e para o Brasil

O cenário internacional

A realização da COP30 em Belém (PA) este ano coloca o Brasil no centro das negociações. O alerta da UNEP serve como um “sino de aviso” de que, embora metas estejam firmadas, o progresso real se arrasta.

Se o mundo não acelerar, o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5 °C — conforme o Paris Agreement — poderá ficar ainda mais distante.

Aspectos para o Brasil

O Brasil, simultaneamente grande produtor de petróleo e gás e potência agrícola, enfrenta importância dupla:

  • No setor de óleo e gás: risco de vazamentos que aumentam a pegada de metano e reduzem o “crédito climático”.
  • Na agricultura/pecuária: fontes de metano como arroz irrigado, metano de dejetos, resíduos orgânicos — estão em destaque na cartilha da IMEO. Para o país, prosperar na agenda de metano exige ação integrada.

Para empresas e governo brasileiros, ser proativo no monitoramento e correção de fontes pode representar vantagem competitiva e reputacional.

O que precisa-se fazer — o plano de ação segundo especialistas

  • Mapear e priorizar vazamentos: dados da IMEO revelam que milhares de alertas estão disponíveis — é preciso transformá-los em planos de correção operacional.
  • Estabelecer políticas regulatórias claras: exigências de monitoramento, reporte, verificação (MRV) nos setores de petróleo, gás, resíduos, agricultura. A OGMP 2.0 já define modelo para óleo/gás.
  • Capacitar técnicos no local: a “correção” muitas vezes é técnica (equipamento, manutenção) e demanda investimento e know-how local.
  • Expandir o foco além dos “espaços fáceis”: agricultura, resíduos, aço são setores emergentes de metano e devem fazer parte da agenda. A IMEO já está envolvida nessas frentes.
  • Criar incentivos e penalidades: recompensar empresas que corrigem vazamentos, penalizar quem ignora alertas. Transparência pública dos dados de metano pode funcionar como mecanismo de pressão.
  • Articular financiamento internacional: dada a urgência, conexões com financiamento climático, parcerias público-privadas, e atenção especial a países em desenvolvimento são cruciais.

Conclusão

O chamado da UNEP — de que quase 90 % dos vazamentos de metano detectados via satélite não são corrigidos — não é apenas alarmante: é um despertador. O metano, silencioso e invisível, representa uma das “vitórias de baixo custo” da luta climática — mas que estão sendo ignoradas sistematicamente.

Para que a COP30 se transforme em ponto de virada e não apenas em cerimônia, governos, setor privado e sociedade civil precisam converter os dados em ação. O Brasil, como anfitrião e ator relevante da agenda global, tem a oportunidade de liderar — ou arriscar ficar para trás.

Se a cada 100 alertas mais de 80 ficam sem resposta, o risco é que o metano continue alimentando o aquecimento global, corroendo a viabilidade das metas. A pergunta que fica: quantos “parafusos” a humanidade ainda deixará soltos antes que o sistema trinque de vez?