Hidrogênio sustentável impulsiona novos caminhos na transição energética global e na indústria

Hidrogênio Sustentável Impulsiona Novos Caminhos na Transição Energética Global e na Indústria

O Combustível do Futuro Está Chegando? Perspectivas e Desafios para a Transição Energética Global

A ascensão do hidrogênio como fonte de energia renovável tem se destacado globalmente como uma peça fundamental na transição para fontes de energia mais limpas. De acordo com o Global Hydrogen Review 2024, publicado pela Agência Internacional de Energia (IEA), o hidrogênio se tornou um dos principais candidatos a impulsionar a descarbonização em setores onde é difícil reduzir as emissões, como na indústria pesada, transporte de longa distância e na produção de eletricidade​. Este artigo irá explorar as perspectivas dessa tecnologia e sua crescente relevância, com foco em sua implementação global e desafios.

O relatório da IEA revela que, em 2023, a demanda global de hidrogênio atingiu 97 milhões de toneladas (Mt), um aumento de 2,5% em relação ao ano anterior. No entanto, grande parte dessa demanda ainda está concentrada nas indústrias tradicionais, como refino e produção de produtos químicos, onde o hidrogênio é produzido a partir de combustíveis fósseis sem captura de carbono​. Embora a produção de hidrogênio de baixas emissões ainda seja limitada, as projeções indicam que a produção poderá chegar a 49 Mt até 2030, um aumento de quase 30% em relação ao ano anterior​.

A América Latina surge como uma região com enorme potencial para a produção de hidrogênio de baixa emissão, devido à sua abundância de recursos naturais e energias renováveis. Segundo o relatório, a região pode produzir mais de 7 Mt de hidrogênio até 2030, com uma intensidade de carbono significativamente menor em comparação à produção a partir de gás natural sem mitigação​. Entretanto, para que essa produção seja viável, a América Latina precisará aumentar sua capacidade de geração de eletricidade em até 20% de sua produção atual​.

Hidrogênio Sustentável Impulsiona Novos Caminhos na Transição Energética Global e na Indústria

Um dos grandes desafios enfrentados pelos desenvolvedores de projetos de hidrogênio é o custo elevado da produção de hidrogênio de baixa emissão. Embora a tecnologia de eletrólise, que utiliza eletricidade renovável para produzir hidrogênio, tenha avançado, seus custos ainda são mais altos que os do hidrogênio produzido a partir de combustíveis fósseis. Segundo estimativas do Global Hydrogen Review 2024, o custo da produção de hidrogênio renovável pode cair para US$ 2-9 por quilo até 2030, metade do valor atual. Mesmo assim, muitos projetos ainda dependem de subsídios governamentais e de políticas de incentivo para serem viáveis economicamente.

Além disso, a infraestrutura de hidrogênio ainda está em desenvolvimento. Apesar de avanços em projetos de eletrólise e captura de carbono, as infraestruturas necessárias para a produção, transporte e armazenamento de hidrogênio de baixa emissão ainda são limitadas, o que pode atrasar a implementação em larga escala. Projetos de infraestrutura de hidrogênio estão em grande parte em fase de planejamento, com poucas iniciativas avançando para a fase de construção​.

Uma comparação interessante levantada pelo relatório é a ascensão da China como líder na produção de eletrólitos para hidrogênio, semelhante ao que ocorreu com os painéis solares e baterias no passado​. A China detém 60% da capacidade mundial de fabricação de eletrólitos, o que está ajudando a reduzir os custos globais da tecnologia. Isso representa um desafio para outras regiões que buscam competir na produção de hidrogênio em larga escala.

O setor de transportes, especialmente o transporte marítimo e a aviação, começa a adotar o uso de combustíveis à base de hidrogênio. A adoção de políticas de apoio, como os mandatos da União Europeia para combustíveis no setor de aviação, impulsionaram acordos de fornecimento para combustíveis à base de hidrogênio​. No entanto, a penetração de mercado ainda é lenta, com alguns projetos ambiciosos sendo cancelados devido a dificuldades econômicas e logísticas.

A geração de demanda para hidrogênio de baixa emissão é outro ponto crucial. Políticas públicas que criam demanda, como os Contratos de Carbono por Diferença na Alemanha, têm desempenhado um papel importante no desenvolvimento do mercado. No entanto, ainda há uma lacuna significativa entre a oferta potencial de hidrogênio e a demanda real​. A diferença entre as metas de produção e a demanda atual reflete a necessidade urgente de governos e indústrias fortalecerem os acordos de fornecimento de hidrogênio de baixa emissão para destravar os investimentos na produção.

No setor industrial, as maiores oportunidades para o uso de hidrogênio de baixa emissão estão no refino, produção de amônia e produção de aço. Essas indústrias são as que mais assinaram contratos firmes de fornecimento de hidrogênio nos últimos anos. O setor de aço, por exemplo, está concentrado principalmente na Europa, onde o hidrogênio vem sendo usado para substituir o gás de síntese baseado em combustíveis fósseis no processo de redução direta do ferro (DRI)​.

Apesar dos desafios, a inovação tecnológica no setor de hidrogênio está avançando. O número de pedidos de patentes de tecnologias relacionadas ao hidrogênio saltou 47% em 2022​. A maioria desses pedidos está relacionada a tecnologias motivadas por preocupações com as mudanças climáticas, o que demonstra que tanto o setor público quanto o privado estão investindo no desenvolvimento de novas soluções​.

Em conclusão, o hidrogênio de baixa emissão tem o potencial de se tornar uma peça-chave na transição energética global, especialmente em regiões como a América Latina, que possuem grandes reservas de recursos naturais para a produção de energia renovável. No entanto, para que essa transição seja bem-sucedida, será necessário um aumento significativo em investimentos em infraestrutura, redução de custos de produção e uma colaboração global mais coordenada​.