A bioeletricidade, gerada a partir da biomassa, está consolidando seu espaço como uma fonte confiável e renovável na matriz elétrica brasileira. Com o Brasil ocupando a posição de maior produtor mundial de cana-de-açúcar, o bagaço desse cultivo se torna um insumo estratégico para a geração de energia sustentável. Entretanto, apesar do crescimento e do potencial da biomassa, o setor ainda enfrenta desafios regulatórios e de incentivos que podem comprometer sua expansão nos próximos anos.
Segundo o Balanço Energético Nacional (BEN) 2024, a biomassa representou 9% da oferta interna de energia elétrica no Brasil, consolidando-se como a segunda maior fonte renovável depois da hídrica. De acordo com a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), há um total de 637 usinas de biomassa em operação no país, totalizando uma potência instalada de cerca de 15.000 MW, o que equivale à capacidade combinada de Itaipu e Belo Monte.
O bagaço de cana-de-açúcar é o grande protagonista desse setor, respondendo por 75% da geração de bioeletricidade para a rede. Em 2023, a bioeletricidade proveniente desse insumo somou 28.137 GWh, volume suficiente para abastecer cerca de 15 milhões de residências durante um ano, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia.
A utilização da biomassa como fonte energética traz diversos benefícios ambientais e econômicos. Além de ser uma energia renovável, seu impacto ambiental é reduzido devido à reabsorção de CO₂ durante o ciclo de crescimento da cana. Ou seja, o carbono emitido na queima da biomassa é compensado pelo carbono absorvido pela planta durante seu crescimento, tornando-a uma alternativa de baixo impacto climático.
Além disso, a bioeletricidade contribui para a descentralização da geração elétrica, reduzindo a dependência das hidrelétricas, especialmente em períodos de seca. Outro ponto positivo é a possibilidade de fornecimento de energia no período seco do ano, quando a geração hidrelétrica enfrenta desafios. Segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), entre maio e novembro, período crítico para os reservatórios, a bioeletricidade tem capacidade de suprir mais de 10% da demanda elétrica do Sudeste e Centro-Oeste.
Apesar do potencial e da contribuição para a matriz energética, o setor de biomassa ainda enfrenta barreiras que impedem um crescimento mais acelerado:
- Falta de incentivos regulatórios – Diferentemente da energia solar e eólica, que contam com benefícios fiscais e financiamentos facilitados, a bioeletricidade não recebe o mesmo tratamento no planejamento energético do país.
- Dificuldades no acesso ao mercado de energia – As usinas de biomassa competem diretamente com térmicas movidas a combustíveis fósseis em leilões de energia, muitas vezes enfrentando dificuldades de competitividade por conta do formato das regras de contratação.
- Infraestrutura e logística – O transporte e armazenamento de biomassa exigem um investimento logístico significativo, o que pode elevar os custos de geração e inviabilizar projetos em regiões mais afastadas dos centros consumidores.
Apesar dos desafios, as perspectivas para a biomassa são promissoras. O Plano Nacional de Energia 2050 (PNE 2050) projeta um crescimento da bioeletricidade, destacando seu potencial para suprir até 20% da demanda nacional de eletricidade se houver políticas adequadas de incentivo.
Além disso, novas tecnologias como a produção de biogás a partir de resíduos agrícolas e urbanos podem ampliar ainda mais a participação da biomassa no setor elétrico, criando uma economia circular sustentável.
A biomassa já se provou essencial para a segurança energética e a descarbonização do setor elétrico. No entanto, para que o Brasil aproveite plenamente esse potencial, será necessário um esforço coordenado entre governo, setor privado e reguladores para garantir incentivos, modernizar o marco regulatório e permitir um crescimento sustentável da bioeletricidade no país.