Biomassa: a energia firme que o Brasil precisa para liderar a transição global

Biomassa: A Energia Firme que o Brasil Precisa para Liderar a Transição Global

Enquanto os olhos do mundo se voltam para as fontes intermitentes de energia solar e eólica, o Brasil detém em seus campos e indústrias uma gigante adormecida, pronta para despertar e liderar a próxima fase da transição energética global: a biomassa. Com a proximidade da COP30 em Belém, o país se encontra em uma posição única para apresentar ao mundo não apenas seu potencial, mas um modelo consolidado de segurança energética baseado em uma de suas maiores vocações: o agronegócio.

Longe de ser apenas um complemento, a biomassa se firma como um pilar estratégico, capaz de oferecer a estabilidade que as fontes renováveis variáveis não conseguem garantir sozinhas. Em um ano marcado por desafios hídricos e a necessidade de descarbonizar a indústria, o aproveitamento energético de resíduos agrícolas e florestais deixa de ser uma opção para se tornar uma necessidade imperativa.

O Cenário Atual: Números que Falam por Si

Atualmente, a biomassa já desempenha um papel crucial na matriz elétrica brasileira. Dados recentes da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) indicam que a capacidade instalada de geração a partir da biomassa ultrapassa os 17 gigawatts (GW). A maior parte desse montante, cerca de 12 GW, provém do bagaço e da palha da cana-de-açúcar, consolidando o setor sucroenergético como um protagonista histórico.

No entanto, este é apenas o começo. Um estudo aprofundado da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que o potencial técnico de aproveitamento de resíduos agrícolas – incluindo culturas como soja, milho, arroz e a própria cana – poderia adicionar dezenas de gigawatts à capacidade nacional. Estamos falando de um volume de energia limpa, firme e previsível, capaz de reduzir drasticamente a dependência de termoelétricas fósseis, especialmente nos períodos de seca que afetam os reservatórios das hidrelétricas.

“A biomassa não é uma energia do futuro, é a energia do agora. Ela oferece a chamada ‘energia na base’, garantindo a segurança do sistema elétrico 24 horas por dia”, afirma um especialista do setor. “Enquanto o sol não brilha e o vento não sopra, a biomassa está lá, gerando eletricidade, vapor e biocombustíveis de forma contínua.”

Além da Cana: A Diversificação das Fontes

O grande salto para o Brasil está na diversificação. O potencial energético contido nos resíduos do agronegócio é colossal e, em grande parte, subutilizado. Segundo a Embrapa, o país gera anualmente mais de 500 milhões de toneladas de resíduos agrícolas. Vejamos o potencial:

Diversificação das Fontes

Essa diversidade permite a criação de um modelo de geração distribuída, onde a energia é produzida perto de onde é consumida. Isso não apenas reduz as perdas de transmissão nas longas linhas que cortam o país, mas também fortalece as economias locais, gera empregos e aumenta a resiliência do sistema elétrico nacional.

Tecnologia e Inovação: O Caminho para a Liderança

O Brasil não é apenas rico em matéria-prima; ele domina a tecnologia. A produção de etanol de segunda geração (E2G), que utiliza o bagaço e a palha da cana, já é uma realidade industrial, aumentando a eficiência do processo em quase 50%.

Além disso, o avanço do biometano é um dos vetores mais promissores. Derivado da purificação do biogás, ele é quimicamente idêntico ao gás natural fóssil e pode ser injetado diretamente na rede de gasodutos existente. Isso representa uma oportunidade de ouro para descarbonizar indústrias que dependem de gás para seus processos térmicos e para substituir o diesel no transporte pesado.

“Estamos diante da possibilidade de criar um ciclo verdadeiramente virtuoso”, explica um pesquisador da área. “O produtor rural que antes via os dejetos de sua criação como um problema, hoje pode transformá-los em gás para abastecer seus tratores e ainda vender o excedente, tudo isso enquanto gera biofertilizantes que melhoram a qualidade do solo.”

Biomassa: A Energia Firme que o Brasil Precisa para Liderar a Transição Global

O Desafio: Políticas Públicas e Investimento

Apesar do cenário otimista, a expansão da biomassa enfrenta gargalos. A falta de políticas de longo prazo, a complexidade regulatória e a necessidade de modelos de financiamento mais atrativos ainda são barreiras a serem superadas. Programas como o RenovaBio foram passos importantes, mas é preciso um arcabouço mais robusto que reconheça o valor da energia firme e despachável da biomassa.

Com a COP30 se aproximando, o Brasil tem a chance de ouro de mostrar ao mundo que a transição energética não precisa ser sinônimo de instabilidade. Ao integrar de forma inteligente a hidroeletricidade, a solar, a eólica e, fundamentalmente, a biomassa, o país pode construir a matriz energética mais limpa, resiliente e segura do planeta, transformando seu passivo ambiental em seu maior ativo energético. A gigante está pronta para acordar. A questão é se teremos a visão e a coragem para despertá-la.