As usinas termelétricas ocupam um lugar estratégico na matriz energética brasileira, atuando como uma espécie de “plano B” para as fontes renováveis e garantindo a estabilidade do sistema elétrico nacional. Este papel tem se mostrado ainda mais relevante em um contexto de transição energética global. Em 2024, o Brasil registrou a entrada em operação de 20 novas termelétricas, adicionando 869,70 megawatts (MW) à capacidade instalada, conforme dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Este número evidencia tanto a importância destas usinas quanto os desafios relacionados à sustentabilidade ambiental e à inovação tecnológica.
Essas usinas utilizam uma ampla gama de combustíveis para gerar eletricidade, entre eles gás natural, carvão mineral, óleo diesel e biomassa. Dentre essas opções, o gás natural se destaca como a principal fonte, tanto pela sua ampla disponibilidade quanto pelo menor impacto ambiental em comparação com outros combustíveis fósseis. A biomassa, por sua vez, tem ganhado espaço como uma alternativa renovável, contribuindo para a diversificação da matriz energética e para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
A diversidade de combustíveis reflete a necessidade de flexibilidade em um país com dimensões continentais e com diferentes realidades energéticas regionais. O gás natural, por exemplo, é mais prevalente em regiões com acesso a infraestrutura de gasodutos, enquanto a biomassa ganha destaque em áreas com alta produção agrícola, como o Centro-Oeste e o Sudeste.
Embora essenciais, as termelétricas enfrentam desafios significativos no que diz respeito às emissões de dióxido de carbono (CO₂). De acordo com o 4º Inventário de Emissões Atmosféricas em Usinas Termelétricas, publicado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), 67 usinas inventariadas emitiram 17,9 milhões de toneladas de CO₂ equivalente em 2023. Este número representa uma redução de 8% em relação ao total emitido pelo parque termelétrico fóssil do Sistema Interligado Nacional (SIN) em 2022. Apesar da redução, os números ainda são elevados, evidenciando a necessidade de estratégias robustas para mitigar os impactos ambientais.
Em dezembro de 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 15.042, que regulamenta o mercado de créditos de carbono no Brasil e estabelece o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE). Essa legislação busca incentivar práticas mais sustentáveis nas indústrias de energia e outras atividades econômicas, promovendo uma abordagem de mercado para a redução das emissões.
O SBCE cria uma estrutura em que empresas com altas emissões podem adquirir créditos de carbono gerados por iniciativas sustentáveis, como projetos de energia renovável ou reflorestamento. Essa medida coloca o Brasil em sintonia com as melhores práticas internacionais e atrai investimentos para setores de baixa emissão, potencializando a agenda climática nacional.
Paralelamente ao papel das termelétricas, o Brasil tem demonstrado avanços significativos na adoção de fontes renováveis. Em 2024, o país adicionou 9,35 gigawatts (GW) à sua matriz elétrica, sendo 90,22% provenientes de fontes renováveis. Dentre elas, a energia solar fotovoltaica liderou o crescimento, representando 48,59% do total, seguida pela energia eólica, com 41,43%.
Essa evolução reflete o compromisso nacional com a sustentabilidade e também a busca por soluções que reduzam a dependência de combustíveis fósseis. Os incentivos governamentais e o avanço das tecnologias de geração solar e eólica têm sido fundamentais para consolidar esse cenário. No entanto, ainda existem desafios, como a intermitência dessas fontes e a necessidade de investimentos em infraestrutura de transmissão.
Apesar do avanço das fontes renováveis, as termelétricas continuam desempenhando um papel vital na segurança do sistema elétrico. Durante períodos de estiagem, quando a produção hidrelétrica diminui significativamente, ou em situações de emergência, como falhas em linhas de transmissão, as termelétricas garantem a continuidade do fornecimento de energia.
Esse papel de “backup” é particularmente relevante em um país que depende fortemente da energia hidrelétrica, uma fonte renovável, mas vulnerável às condições climáticas. Para equilibrar a necessidade de estabilidade no fornecimento com os compromissos ambientais, é crucial promover investimentos em tecnologias mais limpas e eficientes para as termelétricas.
As soluções tecnológicas emergentes desempenham um papel essencial na busca por um setor energético mais limpo e eficiente. Entre as iniciativas promissoras estão as tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês), que permitem reduzir significativamente as emissões de CO₂ das termelétricas.
Além disso, o desenvolvimento de usinas híbridas, que combinam diferentes fontes de energia, como solar e biomassa, com termelétricas tradicionais, é outra solução que vem ganhando destaque. Essas usinas otimizam o uso de recursos e oferecem maior flexibilidade ao sistema elétrico.
As termelétricas são um componente indispensável da infraestrutura energética brasileira, oferecendo suporte crucial à geração renovável e à segurança do sistema elétrico. Contudo, o caminho é claro: o futuro da energia no Brasil depende de um compromisso contínuo com a sustentabilidade.
Investir em tecnologias mais limpas, promover políticas públicas robustas e fomentar o mercado de créditos de carbono são passos fundamentais para alinhar o crescimento econômico à proteção ambiental. O Brasil tem o potencial de liderar a transição energética global, equilibrando sua rica diversidade de fontes de energia com a urgência de preservar o meio ambiente para as gerações futuras.